domingo, 12 de janeiro de 2020

Técnicas de Contação de Histórias

Técnicas de Contação de Histórias

Por Andreia Cristina da Silva


Os contadores de histórias na atualidade, geralmente, elegem fontes escritas, o que requer por parte destes a leitura solitária e cuidadosa antes da transmissão oral. Um critério essencial que não pode ser ignorado pelo contador de histórias é a qualidade literária dos textos escolhidos para a narração. É primordial o conhecimento e a seleção de bons textos literários e possuir uma boa experiência pessoal de leitura.

No momento de escolher a história, o contador deve levar em consideração o seu público alvo, para quem conta, onde conta e o que conta. A preparação da história começa com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto, pela leitura do que está explícito e implícito no texto. Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparação do contador possibilita uma visão mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior com o que foi escrito, de modo a realizar de maneira mais adequada e agradável sua narração.

 A leitura das entrelinhas, isto é, de cada detalhe, é indispensável para que o leitor, no caso o contador, possa ultrapassar a superfície do texto e envolver-se na realização de uma leitura mais bem aprofundada. É preciso, então, que ele não esqueça que a leitura é o exercício de um diálogo. Além disso, o contador precisa apreciar a história, como alguém aprecia uma comida saborosa, de modo a que essa apreciação o desperte para a sensibilidade e emoções que o texto transmite. 

O modo pelo qual o texto é transmitido aos ouvintes deve levar em consideração a ação vocal por meio da qual o texto é transmitido. A narração dos novos contadores, ou seja, a forma com que contam suas histórias, deve ser sempre uma “performance” teatral. Por isso, os contadores podem ser considerados atores de uma teatralidade viva. Para Sisto (2005) Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador, como emoção, texto, adequação, corpo, voz, clima e memória. Nesse sentido, o contador deve pesquisar, estudar e treinar para a sua contação, apresentar o texto com naturalidade. A naturalidade exige segurança e simplicidade no desempenho. O uso de artificialidades, isto é, recursos durante as falas e a atuação implicam na instabilidade do contador perante seu público. Conforme Sisto (2005, p.22) “quem conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a história e o ouvinte, oferecendo espaço para o ouvinte se envolver e recriar.”

 Para Zumthor (2005) os principais instrumentos do narrador são sua voz e seu corpo, para transmitir as emoções do enredo do texto. A voz é um elemento natural, desde sempre separado da linguagem: ela midiatiza a língua. Assim, o contador deve educar a voz para conseguir o melhor efeito possível enquanto narra e também atentar para a sua expressão corporal. A voz tem uma função importantíssima durante a contação, ela deve ser modulada de acordo com o que está sendo narrado. 

Conforme Coelho (1986) é preciso levar em consideração os seguintes aspectos: intensidade, clareza e conhecimento. A intensidade está ligada ao timbre de voz. Entonação e ritmo devem-se adequar às emoções que o contador quer compartilhar e instigar em seus ouvintes. A clareza, por seu lado, diz respeito a uma boa dicção, correção da linguagem. O conhecimento, enfim, depende do aprofundamento do contador no campo da literatura que pretende trabalhar. Segundo Sisto (2005) são elementos chaves que o contador de histórias deve levar em conta para produzir uma boa narração: atentar para o ritmo da fala, projetar a voz, pronunciar as palavras com a maior clareza possível, tornar expressivo o que se diz, descobrir a musicalidade das frases, utilizar a impostação da voz de forma correta, fazer contato visual com o público e confiar na sua contação. 

O corpo também assume um papel importante na transposição do texto impresso para a narração oral. O corpo fala por si só. Sendo assim, a expressão corporal é fundamental para dar credibilidade ao que está sendo narrado. Os gestos devem ser verdadeiros, ou seja, resultar de emoções de fato vivenciadas. Gestos comedidos, controlados, geram cansaço e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que esta sendo narrado. Ao integrar o texto narrado e a expressão corporal o contador alcança um resultado satisfatório em sua atuação. Cada gesto, cada palavra carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir, imprimindo, assim, ao ato de contar sentido e direção. Outro aspecto fundamental durante a performance do contador é o do seu olhar. O olhar instiga o ouvinte a adentrar na história. O contador deve ter um olhar triplicado, pois ao mesmo tempo em que olha para a história que está contando, tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes. A sensibilidade do olhar do contador mediará o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra. 

Para contar bem uma história são necessários os seguintes cuidados por parte do contador:
• conhecer bem a história;
• fazer um planejamento antes de contá-la;
• não enfatizar detalhes simples;
• mostrar entusiasmo e alegria ao contá-la;
• evitar o uso de muitos “então”;
• utilizar linguagem clara e correta;
 • pronunciar bem as palavras;
• olhar para seus ouvintes;
• não interromper a narração para dar explicações;
• falar em tom audível e com voz modulada.

Além dos cuidados acima, as técnicas de voz utilizadas no teatro e a expressão corporal podem ajudar o contador de histórias a dar vida a suas narrativas. O contador de histórias contemporâneo tem consciência de que sua voz é importantíssima, uma vez que ela possibilita ao ouvinte criar sua própria história, visualizar as imagens e imaginar todos os aspectos que envolvem a história que está sendo narrada. A voz quando bem utilizada se torna a responsável imediata para o estabelecimento de um vínculo positivo entre o contador e o ouvinte. A voz do contador deve ser utilizada com certa intencionalidade, cheia de significados daquilo que se deseja comunicar ao outro e não cheia suspenses e hesitações vazias que nada acrescentam. 

A expressão corporal também pode auxiliar o contador de histórias a manter seus ouvintes atentos a cada detalhe que está sendo narrado. Contudo, deve se ter uma certa cautela, pois movimentos muito exagerados podem contribuir para a dispersão do ouvinte. E finalmente, o contador de histórias deve se envolver emocionalmente com a história que vai narrar. Se seu objetivo é emocionar, deve priorizar o despertar da emoção dos espectadores, se for fazer rir, deve conduzir a narrativa de tal modo que o público dê boas risadas. Nessa perspectiva, o contador de histórias deve procurar sempre aperfeiçoar suas técnicas. Na escola, a contação de histórias poderá contribuir para a formação de bons leitores e produtores de textos, bem como contribuir para o desenvolvimento da comunicação oral e da expressão corporal. 

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS 
COELHO, B. Contar histórias uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1986. 
SISTO, C. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. 2 ed. Curitiba: Ed. Positivo, 2005. 
ZUMTHOR, P. A presença da voz. In: Escritura e nomadismo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. p 61-102.

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